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Prof. Paulo Eduardo de Oliveira

Consultoria Educacional

Na escola, todos somos educadores

 

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A escola é, por excelência, um espaço de formação humana integral: nesse espaço, todos são educadores. Essa afirmação, embora muitas vezes subestimada ou esquecida, carrega uma verdade profunda e transformadora: na escola, ninguém está fora do processo educativo. Do diretor ao porteiro, da merendeira ao professor, da equipe pedagógica à zeladora, cada pessoa, em seu papel específico, contribui para a construção de uma cultura escolar que ensina — direta ou indiretamente — valores, atitudes, modos de ser e de estar no mundo. A escola é um ecossistema formativo, no qual cada gesto comunica, cada palavra deixa marcas e cada relação ensina algo sobre a vida.

 

Essa dimensão pedagógica do cotidiano escolar vai muito além do currículo formal. Os estudantes, em todas as etapas da educação básica, observam, interpretam e incorporam comportamentos, falas, reações, modos de tratar os outros e de lidar com conflitos. Aprendem tanto (ou mais) com o que veem quanto com o que ouvem. O modo como um funcionário acolhe os alunos na entrada da escola, a forma como um professor reage a um erro, o tom de voz usado em uma correção, o respeito com que se trata a diversidade, a responsabilidade demonstrada em pequenas ações — tudo isso educa silenciosamente, mas em profundidade.

 

Nesse sentido, é preciso afirmar com clareza: na escola, quem não educa, deseduca — não há neutralidade. O simples fato de estar em um espaço formativo implica responsabilidade. A indiferença, o desrespeito, o descaso, o mau humor sistemático, a impaciência, a incoerência entre discurso e prática — tudo isso também forma, mas forma negativamente (na verdade, deforma). Deseduca-se por omissão ou por exemplo inadequado. Por isso, ter consciência do poder formador que cada um carrega em si, ao atuar no ambiente escolar, é o primeiro passo para uma cultura institucional mais comprometida, mais coerente e mais inspiradora.

 

Essa consciência transforma. Quando cada membro da comunidade escolar compreende que é agente ativo no processo educativo — não apenas transmissor de conteúdos, mas formador de pessoas —, nasce um novo nível de comprometimento ético e motivação profissional. O trabalho na escola deixa de ser apenas uma função e passa a ser missão. A convivência cotidiana ganha sentido, e a qualidade das relações se eleva, porque todos sabem que estão contribuindo, juntos, para algo maior: a formação de seres humanos conscientes, críticos e solidários.

 

É por isso que a escola precisa cultivar uma cultura organizacional baseada na corresponsabilidade educativa. Isso significa reconhecer, valorizar e integrar todos os profissionais como parte do projeto pedagógico, oferecendo formação continuada, espaços de escuta, oportunidades de participação e reconhecimento do papel formador de cada um. Significa também promover a coerência entre os valores que a escola diz defender e as atitudes efetivamente vividas por toda a equipe — da recepção à direção.

 

Educar é, essencialmente, um ato relacional. E, como tal, é sempre coletivo. Ninguém educa sozinho e ninguém se isenta da tarefa de formar. Os muros da escola não contêm apenas aulas, componentes curriculares e conteúdos: contêm vínculos, afetos, conflitos, exemplos e aprendizados que ultrapassam a sala de aula e alcançam a vida. Por isso, a grandeza de uma escola não se mede apenas pelo desempenho acadêmico de seus alunos, mas pela coerência ética e pedagógica de sua comunidade como um todo.

 

Assumir que todos educam — e que a educação se dá nos detalhes do cotidiano — é um chamado à responsabilidade, mas também uma fonte de sentido e inspiração. Porque, ao sabermos que cada gesto nosso pode transformar uma vida, cada palavra pode construir um caminho, cada atitude pode iluminar ou obscurecer uma consciência em formação, descobrimos a profundidade da missão que nos cabe. E essa descoberta nos fortalece, nos une e nos lembra que, na escola, educar é um ato coletivo de amor, de exemplo e de esperança.