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Prof. Paulo Eduardo de Oliveira

Consultoria Educacional

A escola que ensina e aprende: caminhos para uma educação relevante no século XXI

 

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A escola tem, por vocação, a missão de ensinar. No entanto, numa perspectiva verdadeiramente educativa e transformadora, a escola também precisa aprender. Essa afirmação, aparentemente simples, carrega implicações profundas para o modo como concebemos a instituição escolar, sua cultura organizacional e sua relação com o tempo histórico em que está inserida. A escola que ensina, mas não aprende, corre o risco de se tornar autorreferente, dogmática, impermeável às mudanças e, por isso, progressivamente irrelevante.

 

Aprender, para a escola, é um imperativo de sobrevivência e de sentido. Uma escola que não se dispõe a aprender perde sua vitalidade, sua capacidade de se reinventar e de responder com pertinência aos desafios do presente e às demandas do futuro. Para tanto, exige-se dela uma atitude institucional de abertura, de escuta, de humildade para reconhecer não apenas suas potencialidades e conquistas, mas também seus limites, seus equívocos e suas resistências. Essa humildade institucional é o primeiro passo para o aprendizado organizacional, tal como propõe Peter Senge ao definir a escola como uma “organização que aprende”, ou seja, uma instituição capaz de refletir criticamente sobre sua prática, sistematizar o conhecimento que produz, revisar suas crenças e promover mudanças significativas com base na experiência vivida e nas necessidades emergentes.

 

No entanto, essa disposição para aprender não é evidente em todas as escolas. Há ainda instituições que operam sob uma lógica de reprodução mecânica de conteúdos, numa estrutura fortemente hierarquizada, centrada na figura do professor como detentor do saber e do aluno como receptor passivo. Trata-se de um modelo que remonta à Idade Média, onde o saber era dogmatizado, e o ensino, puramente transmissivo. Em pleno século XXI, ainda encontramos escolas presas a essa lógica vertical e distante, incapazes de dialogar com as linguagens, os afetos e os modos de aprender das novas gerações.

 

Outras escolas, por sua vez, parecem estacionadas no século XIX, operando com uma “pedagogia da linha de montagem”, marcada por currículos fragmentados, rotinas inflexíveis, padronização excessiva, rigidez nas avaliações e uma lógica escolar centrada mais na disciplina do corpo do que na liberdade da mente. Esses modelos, herdeiros do paradigma industrial de ensino, foram concebidos para atender a uma sociedade que já não existe. A formação hoje exigida não é mais a de operários disciplinados, mas a de pessoas criativas, críticas, éticas, capazes de aprender ao longo da vida e de colaborar na construção de soluções para os problemas do mundo contemporâneo.

 

Nesse contexto, como insiste a UNESCO em seus documentos mais recentes, é urgente que a escola se alinhe aos desafios do século XXI, tornando-se um espaço de aprendizagem mais significativo, mais cooperativo, mais integrado e mais interdisciplinar. Isso exige a superação do modelo tradicional de ensino e o desenvolvimento de práticas pedagógicas que favoreçam a autonomia intelectual, a participação ativa dos estudantes, o trabalho em equipe, a resolução de problemas reais e o uso crítico e criativo das tecnologias. A escola precisa tornar-se, ela mesma, um espaço de inovação e de experimentação educativa, onde o erro é entendido como parte do processo de aprendizagem e a transformação é uma meta assumida coletivamente.

 

Essa renovação não é apenas uma questão metodológica ou curricular. Trata-se de uma mudança de cultura, de mentalidade, de concepção de educação. A escola que aprende é aquela que assume o movimento como condição de sua existência, que se dispõe a rever práticas consolidadas, a escutar os seus atores, a abrir-se ao novo e a fazer da reflexão coletiva um princípio de gestão pedagógica. É uma escola que não teme a mudança, porque compreende que a fidelidade à sua missão formadora exige constante adaptação às exigências do tempo.

 

Por outro lado, a escola que se recusa a aprender, que se acomoda em suas certezas, que reproduz práticas obsoletas e que fecha os ouvidos à crítica, torna-se rapidamente irrelevante. E, mais grave ainda, deixa de ser verdadeiramente educativa, pois já não dialoga com os sujeitos que pretende formar nem com o mundo que esses sujeitos precisam compreender e transformar. A estagnação pedagógica compromete não apenas os resultados escolares, mas o próprio sentido ético e social da escola como instituição.

 

Portanto, assumir-se como uma “organização que aprende” é, para a escola, um compromisso com a vida, com a pertinência, com a transformação pessoal e social. É reconhecer que ensinar bem exige, antes de tudo, estar disposto a aprender continuamente. É fazer da humildade institucional uma virtude pedagógica e da escuta ativa um método de reinvenção. É transformar a escola não em um museu de práticas mortas, mas em um laboratório de possibilidades vivas, onde ensinar e aprender se confundem com o próprio ato de existir com lucidez no mundo.